Costache, M. E., Frick, A., Månsson, K., Engman, J., Faria, V., Hjorth, O., Hoppe, J. M., Gingnell, M., Frans, Ö., Björkstrand, J., Rosén, J., Alaie, I., Åhs, F., Linnman, C., Wahlstedt, K., Tillfors, M., Marteinsdottir, I., Fredrikson, M., & Furmark, T. (2020). Higher- and lower-order personality traits and cluster subtypes in social anxiety disorder. PLoS ONE, 15(4), e0232187. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0232187
Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo
O transtorno de ansiedade social (TAS) é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns, sendo caracterizado pelo medo persistente e exagerado em situações de interação social. Ele está relacionado com o sofrimento individual, além de envolver desconforto emocional e retraimento social. Através do Modelo dos Cinco Fatores da Personalidade, visualiza-se que tal transtorno está associado com níveis elevados de neuroticismo e baixos níveis de extroversão. A ansiedade social pode ser divida em cinco categorias ou tipos, de acordo com Perugi et al., ou seis dimensões, a partir dos estudos de Hofmann et al. Entretanto, os estudos que relacionam subtipos do TAS com modelos de personalidade são escassos. Por isso, esta pesquisa teve como objetivo avaliar tais subcategorias do transtorno com as dimensões do Modelo dos Cinco Fatores, bem como com outras variáveis clínicas.
Participaram 429 pessoas, sendo 265 pacientes diagnosticados com transtorno de ansiedade social e 164 indivíduos saudáveis. Todos os participantes foram voluntários em estudos de tratamento de neuroimagem e seus dados foram coletados entre 1998 e 2018. Os instrumentos que avaliaram a personalidade foram o Revised NEO Personality Inventory – NEO-PI-R e as Karolinska Scales of Personality – KSP. Já a Liebowitz Social Anxiety Scale – LSAS verificou a severidade dos sintomas de ansiedade social, a Social Interaction Anxiety Scale – SIAS a ansiedade de interação social e o Spielberger’s State-Trait Anxiety Inventory – STAI-T os traços de ansiedade. Realizou-se regressões logísticas incluindo as variáveis do Modelo do Cinco Fatores da Personalidade para identificação dos preditores dos grupos controle e paciente. Ademais, foram feitas análises de clusters de duas etapas e análises de variância entre os grupos (clusters) resultantes.
Os resultados demonstraram que os participantes com transtorno de ansiedade social apresentaram maiores níveis de neuroticismo e menores níveis de extroversão, abertura à experiência e conscienciosidade comparados aos participantes saudáveis. A partir da regressão logística, notou-se que os fatores neuroticismo e extroversão são os preditores mais fortes para as diferenças de ambos os grupos. No que diz respeito à análise de clusters, foram divididos três subtipos do TAS: prototípico, introvertido-consciente e instável-aberto. Os resultados apontaram que o neuroticismo e a extroversão são os fatores com maior relevância para o desenvolvimento e o tratamento do transtorno, sendo preponderante no grupo prototípico. Nos outros grupos (introvertido-consciente e instável-aberto), o neuroticismo foi o fator mais relevante para as diferenças nos traços de ansiedade social.
O estudo tem sua importância para a Psicologia da Saúde para a identificação de diferentes traços de personalidade que estejam relacionados com o desenvolvimento do transtorno de ansiedade social. Além disso, ele serve de base para a diferenciação de subtipos de ansiedade social a partir dos fatores do Modelo de Cinco Fatores da Personalidade. Ambos os aspectos facilitam a compreensão do transtorno, bem como quais manejos podem ser feitos, considerando a personalidade, para o tratamento da ansiedade social. Ainda assim, é necessário desenvolver mais pesquisas para aprofundar-se na implicação dos fatores de personalidade na etiologia e nos desfechos clínicos do transtorno de ansiedade social.
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